É no dia 27 de Janeiro que se assinala o Dia Internacional do Vinho do Porto. Convido-te a celebrares bebendo um copo (nunca gostei da expressão “cálice”) e a ler este artigo sobre as origens deste vinho genuinamente Português.
Esta data foi criada em 2012 pelo Center for Wine Origins, uma instituição dos EUA da qual o IVDP (Instituto dos Vinhos do Douro e Porto) faz parte.
Provavelmente sabes que eu comecei a trabalhar no sector dos vinhos numa loja especializada em vinho do Porto, foi por causa dele que eu apaixonei-me pelo vinho! Estávamos no ano de 1997. Entretanto obtive a certificação Port Educator pelo IVDP e fui recentemente entronizada pela Confraria do Vinho do Porto.
Falar e escrever sobre Vinho do Porto deixa-me sempre muito entusiasmada e emocionada.
Sobretudo quando dou cursos sobre o tema.
Talvez estejas confuso… afinal o “dia” do Vinho do Porto não é em Setembro?
É verdade. A 10 de Setembro também se comemora este vinho desde 2014, porém é o Dia do Vinho do Porto.
A razão é simples, foi a 10 de Setembro de 1756 que Marquês de Pombal estabeleceu aquela que é considerada a primeira região demarcada e regulamentada do mundo – Douro.
A 27 de Janeiro é o Dia Internacional ;)
É muito habitual dizer que o Vinho do Porto é o Embaixador de Portugal, mas a verdade é que, o Vinho do Porto como o conhecemos hoje, rico em grau alcoólico e doce, foi talhado ao gosto inglês. Devemos por isso olhar para a história deste vinho como uma criação portuguesa, mas uma descoberta inglesa.
Faz parte dos manuais escolares (no meu tempo fazia) os vários Tratados que foram assinados entre Portugal e Inglaterra, sendo o mais referido, quando se fala de Vinho do Porto, o Tratado de Methuen, assinado em Dezembro de 1703.
Estes Tratados não foram mais do que “um convénio de comércio e navegação, que incidiu exclusivamente sobre as relações comerciais entre Portugal e a Inglaterra”.
Porém o despertar dos ingleses pelo nosso vinho é ainda anterior à assinatura do Tratado de Methuen. Aliás há registos escritos que os primeiros vinhos exportados para Inglaterra terão sido na verdade vinhos da actual região Vinho Verde, muito provavelmente vinhos de Monção, exportados pela barra de Viana do Castelo.
Vários acontecimentos vieram impulsionar muito antes de 1703 a exportação de vinhos portugueses, foram eles, o agravamento das relações franco-britânicas na segunda metade do século XVII e o desenvolvimento das colónias Norte Americanas, apenas para dar dois exemplos mais marcantes. Nesta altura os vinhos exportados pela barra do Porto, figuravam nos registos ingleses como “Port wine” ou “Port to Port wines” e de 200 tóneis ao ano passamos a exportar 6000 tonéis.
Com todas as vantagens que os ingleses tinham em comprar vinho em Portugal, era importante oferecer o que mercado inglês consumia. Era pois necessário oferecer um vinho que mais se aproximasse dos vinhos de Bordéus, e também dos vinhos de Jerez (Espanha). Vinhos com “força”, “fragrância” e “cor”, e os vinhos produzidos nas encostas do vale do Douro ofereciam isso e quando convenientemente “tratados” aguentavam o transporte e conservavam-se em boas condições por mais tempo. Por isso, na altura, já gozavam de boa reputação.
Em muito ajudou também o rio Douro, excelente via de comunicação, que permitia “os vinhos de Mesão Frio, Vila Real e Lamego desde há muito descessem regularmente para o Porto e dispusessem de um circuito comercial”.
Inicialmente consumido nas tabernas da cidade do Porto, depois pelos marinheiros nos Pub’s, o vinho de então tinha de ser inebriante, para se esquecer as amarguras da vida. A transformação no Vinho do Porto que conhecemos hoje, um vinho encorpado quando jovem, doce e rico em álcool, um produto reputado (ou não fosse ele o Embaixador de Portugal!), foi um “processo lento, feito de sucessivas experiências para adaptar um vinho naturalmente forte e áspero, num outro mais suave que correspondesse ao gosto do mercado e aos condicionalismos temporais das viagens e dos estágios mais ou menos prolongados nas docas de Londres e nos armazéns ingleses”.
Levaria algumas décadas para os vinhos exportados pela barra do Douro tornarem-se num produto admirado pelas elites inglesas, só quando o seu perfil foi adaptado ao gosto britânico, a sua procura começou a aumentar, tal como o preço e suplantou na procura, outros vinhos europeus, ganhou a reputação que ainda hoje granjeia.
Para honrar a história deste vinho que é também parte da história de Portugal, e porque vais querer celebrar o Dia Internacional do Vinho do Porto, senão tens aberta abre uma garrafa de Vinho do Porto e brindemos!
Eu hoje vou optar por um Tawny 40 Anos do produtor Vieira da Silva.
Nos comentários em baixo diz-me qual foi o Vinho do Porto que tu escolheste ;)
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